sábado, 11 de abril de 2015

Texto de Nina Lavezzo de Carvalho


Carnaval com muito samba; a arte do futebol nas veias; lindas mulatas dançando incansavelmente; praias maravilhosas, muito molejo e caipirinha; além de uma população inteira de Macunaímas malandros e ingênuos. A identidade brasileira foi, assim como qualquer nacionalidade, uma construção histórica (Schwarcz, 1993): "insistem em vincular nossa identidade a uma espécie de mestiçagem peculiar, uma mestiçagem que, de racial e detratora, se faz moral e nacional. É essa mesma mestiçagem que se re-significa em 'malandragem'...". Não é a toa que o brasileiro é retratado como bom de lábia, de samba, de conversa e de vadiar. É o bom e velho Zé Carioca. Bem, como diriam os Racionais MC's, "você deve estar pensando o que você tem a ver com isso?" e, mais especificamente, o que a sua e a minha bunda têm a ver com isso? O que faz a bunda brasileira ser A bunda? Por que o é? Como o requebre, o andar ritmado vindo da mestiçagem e a sensual ingenuidade, todos elementos da idealização de identidade brasileira, vêm convergir em uma bela e sensual bunda?
Ilustração do artista paraibano Shiko.


Malandro é malandro, mané é mané


A definição de uma nacionalidade passa pela a escolha de símbolos que representem uma unidade através da qual pode estabelecer-se uma nação. A identidade de um povo seria essa simbologia, essa "memória comum" (ainda que forjada) que faz compartilhar entre indivíduos do mesmo país certa fraternidade. A partir disso podemos entender o esforço historicamente realizado por intelectuais e agentes governamentais para criar uma identidade brasileira. Tal empenho tem início na independência e parece persistir até hoje:
"De fato, o tema da identidade mais se parece com uma 'obsessão local', surgindo nos momentos mais inesperados, (...) ora como elogio, ora como acusação. (...) Em meio a novos planos de governo, nos famosos pacotes econômicos, no esporte - sobretudo quando saímos vitoriosos -, é sempre a identidade nacional que parece estar em pauta." (Schwarcz, 1993)

Assim, sob a pressão de se criar e assumir uma identidade, em 1844 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro lança um concurso com o título: "Como escrever a história do Brasil". O vencedor foi um naturalista alemão, cuja tese principal era a miscigenação: "... no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas que nesse país são colocadas uma ao lado da outra (...) e devem servir-se mutualmente de meio e fim" (Martius, 1991, citado por Schwarcz, 1993).  Assim iniciava-se o "mito das três raças" (Malta, 1981), colocando a originalidade do brasileiro nessa mistura racial de brancos, negros e índios.

Capa do filme "Macunaíma" baseado no livro homônimo de Mário de Andrade que, a partir do "mito das três raças" descreve a trajetória do "herói de nossa gente".

A miscigenação instituída como realidade histórica abarcava a singularidade brasileira, mas também denotava seu povo como depravado: "São todos mulatos, a ralé do gênero humano, com costumes condizentes" (Arthur de Gobineau, 1853, citado por Schwarcz, 1993). Levando-se em conta os azedumes da mestiçagem e em função do relativo crescimento da consciência social, começa-se a questionar o "mito das três raças" como veredicto biológico e este eleva-se ao nível cultural e/ou espiritual. De modo que estaria, senão no sangue, na alma do brasileiro essa mescla (Freyre, 1933). A mestiçagem é partir de então naturalizada como elemento que reflete a brasilidade.

A mescla vendia a imagem de uma miscigenação pacífica e voluntaria, escondendo as opressões, abusos e assassinatos (tanto literalmente quanto culturalmente, num sentido amplo) às três etnias, especialmente da branca em relação à negra e à indígena. Essa distinta formação nacional, supostamente fruta da "união" de três raças "irmãs" chamaria a atenção dos estrangeiros, de modo a criar figuras icônicas na denotação do "tipo ideal" brasileiro. Para Lilia Schwarcz, a imagem do Zé Carioca, criado por Walt Disney em 1942 e exportado mundo afora, condensa esse tipo ideal: uma figura "que representava de forma mimética a simpática malandragem carioca, na recusa ao trabalho regular e na prática de expedientes temporários que garantiam uma boa sobrevivência. Nesse ambiente, samba, festa, capoeira e malandragem eram temas entrelaçados..." (Schwarcz, 1993).

Cena do filme "Alô, amigos", de 1942, quando o Pato Donald vem conhecer o Brasil apresentado por seu amigo, o "malandro simpático"(Disney, 1945), Zé Carioca.
"Conviviam assim duas imagens contraditórias da malandragem mestiça. A primeira, e mais negativa, era aquela que associava a malandragem à falta de trabalho, à vagabundagem e à criminalidade potencial (...). Foi a segunda interpretação, porém, que imperou nesse contexto. Nela, o malandro aparecia definido como um sujeito bem-humorado, bom de bola e de samba, carnavalesco zeloso. (...) reintroduzia-se, nos anos 50, o modelo do "jeitinho" brasileiro..." (Schwarcz, 1993).
A miscigenação cultural, portanto, tem um ponto essencial, visto que foi a partir do sincretismo, em especial com a cultura afrodescendente, que  o samba e a capoeira surgiram. Ambos são considerados características singulares brasileiras e instrumentos de influência nacional no exterior.

"Mulata Velha", obra de Carybé, artista argentino naturalizado brasileiro que pintou a vida na Bahia da década de 1950 em diante. O pintor ilustrou a obra "Capitães de Areia" de Jorge Amado.

Come Ass You Are


De novo: e a bunda, onde é que entra? Entra aí mesmo, na construção da identidade brasileira. Gilberto Freyre publicou, em 1984, um artigo para a Playboy com o título "Bunda - Paixão Nacional". Nesse texto, o autor vê na descendência tanto africana quanto ibérica as raízes biológicas do fenômeno, ou seja, retorna à miscigenação para explicar a bunda brasileira. Das relações inter-raciais começara a idealização da preferência pelas ancas largas que foram disseminadas na mestiçagem. O autor destaca ainda as opressões sociais através das quais se davam essas relações (ainda que sem a intenção de manter uma discussão sobre a opressão em si):
"Pois para a satisfação dos ardores sexuais o macho patriarcal brasileiro tinha, ao seu dispor - por vezes defrontando-se com ciúmes de esposas ciosas de seus direitos conjugais -, escravas, mucamas, morenidades em vários graus de mulheres. Isso, dentro da reciprocidade casa grande-senzala. Miscigenadas, como se a miscigenação se fizesse através de experimentos (...). Experimentos que permitissem com que graduadas saliências de bundas, evitando-se os exageros africanóides." (Freyre, 1984).

O preconceito racial tem um lugar especial na história das bundas, nada relacionado com a origem africana na palavra. Os "exageros africanóides"foram desvendados pelos europeus no século XIX com Saartjie Baartman. A sul-africana de ancas claramente avantajadas foi estimulada pela família holandesa para quem trabalhava a ir para a Europa para exibir-se e "tornar-se rica". Saartjie foi analisada por vários cientistas devido a suas proporções inusuais, era vista como uma espécie diferente e por isso precisava ser estudada. O que mais chamava a atenção em seu corpo, na época, era sua bunda, extremamente grande para os padrões europeus e sustentada por largas ancas, e sua vagina, com longos lábios genitais. Suas nádegas, lábios, clítoris e mamilos foram medidos e esses registros permaneciam em museus, institutos científicos e zoológicos. Quando o alvoroço científico passou, Saartjie foi comprada e exibida em espetáculos semelhantes a shows de aberrações e a seguir adentrou a prostituição. Essa relação de afrodescendência e tamanho da bunda tornou-se assim um dado, um veredicto que associou a miscigenação brasileira à traseiros avantajados. (Ah, e se a história de Saartjie ainda não chocou vocês: após sua morte, seu cérebro, esqueleto e órgãos genitais foram retirados e colocados em exposição em Paris até os anos 1970.)

Acima, esboços do corpo de Saartjie Baartman (anônimo). Abaixo, representação de Saartjie no Illustrations de Histoire Naturelle des Mammifères.

Bem, para além da suposta grandiosidade da bunda brasileira herdada do "mito das três raças", teríamos conosco também um certo ritmo de andar próprio, um requebre, um balanceio.
"A grande número de mulheres brasileiras, a miscigenação pode-se sugerir ter dado ritmos de andar e, portanto, de flexões de nádegas, susceptíveis de ser considerados afrodisíacos. (...) Os ritmos de andar da miscigenada brasileira chegam a ser musicais na sua dependência de bundas moderadamente ondulantes" (Freyre, 1984). 
Assim se desenvolveu uma mitologia em torno da bunda brasileira, reforçada pela imagem do dois elementos quase sinônimos de Brasil: o samba e o carnaval. As belas "mulatas" sambando semi-nuas ao som de exaltadas baterias enchiam o imaginário dos estrangeiros quanto ao Brasil e o Brasil aceitava (aceita?) e reforçava essas imagens. O vídeo de Arnold Schwarzenegger no "carnaval carioca" demonstra isso muito bem. Convidativos cartazes com garotas de biquíni com a intenção de atrair turistas para o país, músicas de grande significância cultural como "Garota de Ipanema", além do já citado samba, fizeram da bunda um esteriótipo de Brasil.
"Não tanto ao vivo, como por meio de anúncios de revistas ilustradas, que se vêm esmerando na utilização de reproduções coloridas de bundas nuas, como atrativos para uma diversidade de artigos à venda. Há, no Brasil de hoje [1984], uma enorme comercialização da imagem da bunda de mulher em anúncios atraentes. Estéticos uns, alguns lúbricos. Também se vem fazendo esse uso na televisão. E, sonoramente, em músicas apologéticas da beleza da bunda da mulher." (Freyre, 1984).

A visita de Schwarzenegger ao Brasil para a apresentação do que seria o Carnaval, cômica se não fosse trágica, exibe a visão que propagada do país aos olhos de um estrangeiro (Duroselle, 2000).

Se nos anos 1980 já se percebia a alta influência da publicidade nessa adoração à bunda, hoje não é diferente. Os comerciais de cerveja, em sua estrondosa maioria, fazem apologia a essa cultura de adoração ao bumbum - não é a toa, portanto, que é tão penosa a luta para tirá-los do ar: eles reiteram uma característica identitária nacional, por mais sexista que seja. São poucas as novelas "das 9" que não contém cenas erotizadas envolvendo nádegas. A mini-série "Felizes para sempre?", por exemplo, parece ter impactado o Brasil com a cena de Paolla Oliveira de costas só de calcinha: "tudo foi esquecido diante daquela bunda" (Fagundess, 2015). Também grande parte dos funks de sucesso atuais (não só funks, mas colocando esse estilo, o funk carioca, como também uma singularidade brasileira) reiteram a importância da bunda, do rebolar, do "descer até o chão", requebrar, etc. O resultado é o quadradinho de 8, em toda a sua apologia ao corpo feminino e toda a objetificação que isso possa inferir.

Clipe "Faz Quadradinho de 8", do Bonde das Maravilhas, grupo de funk carioca. O funk foi um sucesso estrondoso e levou muuuuita gente a ensaiar um bocado para conseguir reproduzir os passos.

Esse fenômeno não se reduz ao Brasil. E, independentemente do país, a bunda é sempre apresentada como naturalmente afrodescendente. A libertação do corpo, em comunhão com a libertação sexual, dos anos 1970, possibilitou tratar da bunda com mais naturalidade e, ao mesmo tempo, exibi-la muito mais (seja em frequência seja em notoriedade sobre as roupas) sem uma repressão tão dura. No movimento feminista, isso evoluiu em uma via de mão dupla: ao mesmo tempo que permite o tratamento do corpo de forma humanizada, real e sem tarjas pretas, possibilita a objetificação de mais um elemento que, apesar de também ser parte da anatomia masculina, está claramente ligado ao feminino e à idealização de mulher. A liberdade confronta-se com a possibilidade de objetificação, pois esta última colocaria a bunda como uma entidade, uma parte independente da mulher. O filme "O Cheiro do Ralo", de Heitor Dhalia (trailer), mostra claramente isso, na trajetória do personagem principal que se apaixona pela bunda da garçonete do boteco que ele costuma ir.

Trecho de "O Cheiro do Ralo", de Heitor Dhalia. Lourenço jamais se lembraria do nome da moça, apesar de seu vício: a bunda dela -somente a bunda.

Beyoncé, Nicki Minaj, Kim Kardashian, Rihanna, Iggy Azalea, Miley Cyrus (com o twerk) e Jennifer Lopez (já há muito mais tempo) são símbolos desse auge "internacional" da cultura da bunda. Nos Estados Unidos isso tem um valor especial, pois o peito fora sempre o principal objeto de desejo, visto que a bunda era relacionada à população negra. "A cultura pop americana, que se preocupou sempre mais com peitos, foi invadida por traseiros" (Fagundes, 2015). Nas músicas de rap e hip-hop, ou mais especificamente no gangsta rap, as bundas sempre foram elevadas e colocadas em voga: um gênero da música negra estadunidense tratando da parte do corpo feminino mais vinculado à população negra, nada de surpreendente. Assim, quando pensamos no sucesso de "Anaconda", de Nicki Minaj, uma mulher negra que faz rap e eleva as bundas grandes como um ícone de desejo, quando pensamos em quantas pessoas esse sucesso atingiu e a avalanche que causou ( o sucesso de Iggy Azalea e Kim Kardhashian, por exemplo, se devem à essa cultura da bunda), entendemos a importância desse movimento e, em alguma medida, a globalização das bundas. Apesar de não ser meu foco nesse post, entender como a cultura americana lida com essa nova estética é uma problemática interessantíssima, seja pela importância dos Estados Unidos como potência global, seja pela questão racial que está por trás dessa "revolução" (para quem se interessar: "What Kim Kardashian's "Paper" Magazine Shoot Taught Us About Black Female Identity").

Capa do single "Anaconda" da rapper Nicki Minaj. "Oh my gosh, look at her butt!"

Um tapinha não dói, só um tapinha


Cena de espancamento erótico retirada do documentário "La Face Cachée des Fesses" (O lado oculto da bunda), de Caroline Pochon e Allan Rotschild.

Concluímos, então, que a bunda percorreu uma longa trajetória de construção social e midiática para de tornar um "patrimônio nacional", um símbolo identitário.
"'Nos significados atribuídos à bunda na sociedade brasileira condensam-se algumas das ideias centrais presentes nas interpretações do país', reflete Arthur Bueno, doutor em sociologia pela USP. 'De um lado, a sensualidade, o requebrado, a malemolência, encarados como consequências positivas da formação miscigenada do povo brasileiro. De outro, nossa suposta passividade política, associada à passividade sexual.'" (Fagundes, 2015).

Símbolo de sexualidade, malandragem e gingado, a iconização da bunda brasileira pode também condensar essa "passividade política", demonstrando a diminuta participação política do povo em eventos-chave de mudanças social e política no país. "Foi com ênfase nessa ideia que, em 1986, membros do futuro Casseta & Planeta fizeram uma camiseta com a bandeira do Brasil em que no lugar do indefectível 'Ordem e Progresso' lia-se 'Ê, povinho bunda'"(Fagundes, 2015).

Camiseta feita pelos membros do futuro Casseta & Planeta criticando a passividade política do "povo brasileiro".

Assim, a bunda, simbolicamente, é parte da composição do "homem cordial" de Sérgio Buarque de Holanda.
"Na realidade, ao referir-se à cordialidade, Sérgio Buarque busca enfatizar uma característica marcante do modo de ser do brasileiro, segundo sua lupa: a dificuldade de cumprir os ritos sociais que sejam rigidamente formais e não pessoais e afetivos e de separar, a partir de uma racionalização destes espaços, o público e o privado. Mais do que uma espécie de indivíduo, a cordialidade perpassa, em maior ou menos escala, a todos os atores sociais no Brasil. Afirma Buarque de Holanda:
A lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, [...]. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. [...](HOLANDA. 1999: 141)
Consiste, então, a cordialidade dos gestos largos, deste espírito aparentemente folgazão, que têm como marca o uso exagerado dos diminutivos, visando, justamente, a quebra da formalidade da relação que deve estar se estabelecendo, para que a esta passe a se tornar uma relação de 'amigos'" (Silveira, 2001).

Tanto pela malandragem associada a ela (mesmo no sentido sexual, por simbolizar uma maneira não ortodoxa de fazer sexo), retratando a dificuldade de lidar com a formalidade e burocracia; quanto no sentido de convite sexual e passividade política, por representar um tipo de hospitalidade do qual pode-se abusar. Podemos até entender a bunda como um elemento relacionado a características do soft power brasileiro, como a malemolência e a malandragem.

Propostas de estampas da Adidas para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. As camisas foram condenadas pela Embratur "por fazer apologia ao turismo sexual" (Fagundes, 2015). 

Started from the bottom now we're here


E agora? Bom, gostaria de abordar 2 consequências principais da "cultura da bunda" e da relação da identidade com a bunda brasileiras.

Paolla Oliveira em cena de "Felizes Para Sempre?", mini-série da Globo dirigida por Fernando Meirelles.

A primeira é a disseminação mundial do traseiro feminino. Isso se dá em vários aspectos: na música e na dança, o funk carioca; em eventos internacionais, o carnaval; em eventos nacionais, o concurso Miss Bumbum; nas clínicas, a Brazilian Butt Lift; na moda, o Brazilian Butt Enhancer.
"'Não são seus genes. Também não é sua culpa. Você pode remodelar sua bunda, fazendo-a ficar dura e firme!' A explicação está em inglês no site do personal trainer brasileiro Leandro Carvalho, que vende seus produtos pelos Estados Unidos e Europa. O tal gene é o que faz com que as mulheres brasileiras tenham a bunda mais famosa do planeta (dizem). E o tal plano chama Brazilian Butt Lift e foi lançado com sucesso internacional por Leandro (...)" (LEMOS, 2015).

Cartaz exposto em manifestação questionando a objetificação da mulher. 

Sim, a bunda brasileira está sendo vendida e exportada mundo afora! Mas, novamente, só a bunda. Isso nos leva a questionar novamente se não estamos objetificando a mulher e colocando num pedestal uma parte do corpo feminino, que não só pode ser tratado como objeto de desejo como também como mercadoria. O Brazilian Butt Enhancer é a transformação da bunda em mercadoria: vende-se uma calça jeans com bojo de até 30 euros para aumentar a bunda e conseguir uma autêntica bunda brasileira - a exportação de um esteriótipo de identidade brasileira. Sobre o Miss Bumbum, Daisy Donovan afirmou, em seu programa "The Greatest Show On Earth, que o concurso se resume a um "festival de carne que resume como as mulheres são tratadas (e objetificadas) no Brasil" (Fagundes, 2015). Somos assim objetificadas e tratadas apenas como bundas, como carne, no Brasil? É algo que temos que constantemente nos questionar, creio eu. 
"Essa cultura segue, em parte, porque o corpo tem força simbólica, como afirma Mirian Goldenberd. 'O corpo, para a mulher brasileira, é um capital, ela consegue muita coisa no mercado de travalho, no mercado sexual, no mercado de casamentos, em função do corpo', afirma a antropóloga. Dentro dessa visão, claro, a bunda tem papel fundador" (Fagundes, 2015).
Para encerrar, mais uma do Shiko.

BIBLIOGRAFIA:

BENNETT, Amanda. What Kim Kardashian's "Paper" Magazine Shoot Taught Us About Black Female Identity. Blog: Her Foolish Wit. Novembro, 2014. Disponível em: http://herfoolishwit.blogspot.com.br/2014/11/what-kim-kardashians-paper-magazine.html.
DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo império perecerá. Teoria das relações internacionais. Capítulo 1: O estrangeiro. Brasília: Edunb, 2000. Coleção Relações Internacionais.
FREYRE, Gilberto. Bunda - Paixão Nacional. Playboy, nº 113, "Uma paixão nacional". Dezembro, 1984. Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/?p=1835.
FAGUNDES, Renan Dissenha. Uma bunda é uma bunda é uma bunda. Reportagem, pág. 48. TPM, nº 151, Especial bunda: o lado B do Brasil. Março, 2015. Ano 14. ISSN 1519-4035. Editora TRIP. São Paulo.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo. Companhia das Letras, 1999.
LEMOS, Nina. Badulaque - 2. A bunda brasileira (ainda) é o novo café. Pág. 88. TPM, nº 151, Especial bunda: o lado B do Brasil. Março, 2015. Ano 14. ISSN 1519-4035. Editora TRIP. São Paulo.
SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. COMPLEXO DE ZÉ CARIOCA Notas sobre uma identidade mestiça e malandra. 1993. ANPOCS. Disponível em: http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_29/rbcs29_03.
SILVEIRA, Éder. Considerações sobre O Homem Cordial, de Sérgio Buarque de Holanda e A Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. Julho, 2001. Ano I - nº 2. Maringá, PR, Brasil. ISSN 1519.6178. Disponível em: http://www.urutagua.uem.br//02_raizes.htm#_ftn1.




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