segunda-feira, 6 de abril de 2015

Texto de Maria Carolinna Camilo

Gosto muito de fotografia, e por isso busco sempre por trabalhos de fotógrafos aleatórios pela internet. Essa semana eu vi dois casos muito interessantes (e contrários) que me fizeram refletir muito.

O primeiro trabalho foi danorte-americana Kate Parker, que criou um ensaio com suas filhas para quebrar os estereótipos de gênero presentes nas sociedades (meninas princesinhas) e tentou capturar a verdadeira essência da infância.


Achei muito legal a proposta porque ela não impõe a feminilidade às crianças, ela dá liberdade para as meninas se sentirem crianças, sem as preocupações de gênero. Na minha percepção isso deixa uma liberdade para que essas meninas façam suas próprias escolhas de gênero quando tiverem maturidade para isso, sem uma imposição antecedente. Quando a Simone de Beauvoir diz sobre o sentimento de ser ou não mulher projetado não em aspectos biológicos, mas sim na afetividade da mulher e seu sentimento de pertencimento, pra mim essa mãe deixa as filhas passarem por esse processo sozinhas, realmente se definindo pelos sentimentos vividos e não imposições :

“O IMENSO progresso que a psicanálise realizou na psico- fisiologia foi considerar que nenhum fator intervém na vida psíquica sem ter revestido um sentido humano; não é o corpo- -objeto descrito pelos cientistas que exige concretamente e sim o corpo vivido pelo sujeito. A mulher é uma fêmea na medida em que se sente fêmea. Há dados biológicos essenciais e que não pertencem à situação vivida. Assim é que a estrutura do ovário nela não se reflete; ao contrário, um órgão sem grande importância biológica, como o clitóris, nela desempenha um papel de primeiro plano. Não é a natureza que define a mulher: esta é que se define retomando a natureza em sua afetividade. “(BEAUVOIR, Simone, 1970)

Eu, particularmente, fui uma criança nada comportada, eu curti a minha infância, joguei futebol, brinquei de carrinho e subi em muros e árvores como um menino, e isso não fez de mim menos feminina hoje, a minha sexualidade eu tive liberdade de escolher, quando eu já tinha capacidade de entender, e nada me foi importo. Eu nunca consegui entender o porque da diferenciação entre “coisas de menino” e “coisas de menina”, dentro da minha casa eu não deixava de ser a menininha da mamãe porque eu praticava atividades consideradas masculinas, mas na rua eu era chamada de “machinho”. Quando eu batia em um menino na escola a professora não dizia que era errado violência, ela dizia que este não era um comportamento esperado para uma menina, isso me deixava extremamente confusa pensando “então os meninos podem bater e as meninas não?”. Eu tinha muitas coleguinhas que as mães delas não deixavam elas correrem e brincarem de coisas consideradas masculinas. A minha mãe me criou assim porque a minha avó não fez o mesmo por ela, a minha avó queria que a minha mãe fosse sua “bonequinha”, comportada em seus vestidos com naguá e sapatinhos de boneca, mas a minha mãe também era um “machinho”.

Pela minha educação, eu acho muito bacana a iniciativa, porque é a infância representada pela infância, sem a diferenciação de gênero (que é o mais comum), principalmente nos dias de hoje que se pode cada vez mais questionar a questão de gêneros. Esses dias eu li que o número de crianças com menos de 10 anos que foram encaminhadas para o serviço britânico de saúde devido a problemas de identidade de gênero quadruplicou nos últimos 6 anos, ou seja, existe um problema sério sobre o assunto.

Por outro lado, na mesma semana, eu vi o trabalho da fotógrafa belgaMarilène Coolense que sensualiza sua filha muito cedo, Nos comentários ela foi veementemente criticada por pessoas dizendo ser seu trabalho um “portfólio pedófilo”. 

 

Entretanto este é um problema profundamente comum e fácil de se encontrar. Um exemplo de caso recente é a polemica da “blogueira fitness infantil”, no qual uma menina de 9 anos mostra sua rotina de exercícios na academia e dieta balanceada (ela é filha de um personal) em fotos no instagram, o instagram por sua vez bloqueou a conta da menina por questão de denuncias.




Esses casos mostram claramente que cada vez mais cedo as meninas estão perdendo a infância e sendo sexualizadas, se tornou “normal” uma criança se preocupar com padrões estéticos de beleza, a hiper-sexualização da mídia vêem atingindo não mais apenas mulheres adolescentes/adultas, mas também as crianças. As “novinhas” aparecem em músicas sertanejas e muitas são famosas na internet (de 13 a 15 anos). 









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BIBLIOGRAFIA 

BEAUVOIR, Simone – O Segundo Sexo – Volume II – Fatos e Mitos, 1970.

Um comentário:

  1. A Flavia Pavanelli,da última foto,não tem 15 anos,ela tem 17

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