sábado, 7 de novembro de 2015

Há um tempo,  vi uma matéria que me causou grande indignação, principalmente pela maneira como o título estava escrito. Mas sempre esse assunto vem à tona, disfarçado de pequenos xingamentos ou leves críticas, e então, resolvi escrever. A revista CartaCapital escreveu sobre um episódio que ocorreu no programa Big Brother Brasil, da Globo, apresentado no começo do ano, com o título: “ BBB15: Talita obrigou Rafael a transar sem camisinha”.  A revista cita esse título de maneira irônica, evidenciando, que há outras pessoas com a mesma indignação que me inquieta.

Essa questão de métodos contraceptivos foi muito discutida após a repercussão desse assunto nas redes sociais, e está muito em pauta atualmente.
Mas em relação à reportagem, o que mais me intrigou foram os xingamentos feitos à Talita após o ocorrido. Inúmeros foram os comentários em redes sociais criticando-a como “vagabunda”, descuidada, mulher vulgar que fica tendo relações sexuais em rede nacional, irresponsável, e etc, enfim, xingamentos de todos os tipos. Claro, só a mulher tem que se cuidar, se dar ao respeito e se precaver, afinal, ela faz sexo sozinha, não é mesmo?



Não quero fazer aqui uma vitimização da mulher, de forma alguma. E muito menos quero dizer que a culpa de tudo é do homem. E nem da mulher. Se há relação consensual entre um casal, qualquer consequência dela será de plena responsabilidade dos dois envolvidos.

Se ambos estão fazendo a mesma coisa, juntos, por que a mulher é tratada como promíscua e o homem nem sequer é mencionado? E quando é, é de forma positiva, o vangloriando pela ação? O homem quando faz sexo sem camisinha desrespeita seu corpo tanto quanto uma mulher quando faz sem camisinha. Ambos estão exatamente na mesma situação. É preciso da aprovação dos dois para que o ato sexual ocorra.

É com essa mesma mentalidade, de que a culpa é só de um lado, que nascem questionamentos maiores, como por exemplo, a questão do aborto, pois na sociedade em que vivemos ainda há o julgamento de que, se uma mulher indesejavelmente engravida, a culpa é dela por não “ter se valorizado e se cuidado” e por " não ter fechado as pernas". Assunto esse que  merece super destaque, uma vez que dia 21/10/2015 a Comissão de Constituição e Justiça aprovou por ampla maioria um projeto de Lei de Eduardo Cunha, o qual estabelece leis específicas para quem induzir ou orientar gestantes ao aborto, e incluindo nisso uma maior dificuldade ao acesso à pílula do dia seguinte no sistema público, mesmo em casos de estupro e, nestas situações, há agora a exigência do corpo de delito para atendimentos no SUS (Sistema Único de Saúde).

 É por isso que há tantas brexas para atitudes de homens imaturos e negligentes que preferem ignorar e fingir que não foi o semêm dele que fecundou o ovário da mulher e gerou um bebê, tentando se enganar acreditando que não possui responsabilidade nenhuma sobre a gravidez. E consegue piorar quando todos simplesmente a julgam e nem sequer pensam em também responsabilizar o pai, MAS afinal, ele não está grávido né.
Sendo assim, me questionei o porque da produção do programa Big Brother Brasil 15 mandar um ginecologista ao programa para conversar com a participadora a sós. Por que não foi feita uma consulta com o casal, uma vez que o assunto em pauta eram métodos anticoncepcionais para as relações deles? O corpo é dela, quem decide se vai tomar ou não o remédio é ela, ok. Mas é um assunto que aflige às duas pessoas. Na hora de ser xingada sobre o fato de que ela deveria se proteger, a conversa foi só com ela. Mas, nesse âmbito, a conversa não deveria ser com os dois, já que foi uma irresponsabilidade das duas partes ao ignorarem os riscos?
São esses os riscos que, atualmente, crescem e se espalham como um gás que não podemos ver, só sentimos seus efeitos. Que podem ser vários, e sérios.

Segundo a Unaids – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids -, o número de pessoas vivendo com HIV/Aids cresceu de 30 milhões para 35,3 milhões entre 2001 e 2012. A agência da ONU mostrou que todos os anos, no Brasil, são notificados cerca de 3.500 novos casos de AIDS entre adolescentes e jovens de 12 a 24 anos (DATASUS/MS).
E, além disso, cerca de 56% dos casos estão concentrados na Região Sudeste. Em 2012, houve a notificação de 39.185 novas infecções. No total, nos últimos dez anos, a doença cresceu cerca de 2% no Brasil.

O último Boletim Epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde entre 2005 e 2012, “revela que a população entre 15 e 24 anos teve mais casos da doença, passando de 8,1 para 11,3 a cada 100 mil. A pesquisa também diz que homens e mulheres entre 24 e 49 anos são o grupo populacional mais infectado, apesar de a detecção de novos casos entre as mulheres jovens ter diminuído 12,2% nos últimos dez anos.” Porém, apesar disso, o número de casos entre os homens aumentou 67,8% – no caso, são eles quem mais infectam as mulheres. Enquanto isso, a previsão do estudo é de que outras 150 mil pessoas sejam portadoras do vírus e não saibam.
Mas, em controvérsia a esses dados, foi feita uma Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012) que revelou “que os jovens estão recebendo mais informações sobre sexo e doenças sexualmente transmissíveis”. O estudo do Ministério da Saúde, feito em parceria com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apoio do Ministério da Educação, revela que 89,1% dos adolescentes receberam orientação sobre DST e AIDS e 82,9% informações de como evitar gravidez.


Há também dados do Ministério da Saúde que atestam que 94% dos brasileiros sabem o quão importante é usar preservativos, mas apenas 45% dos brasileiros em idade fértil realmente usam.
Se vivêssemos em uma sociedade completamente retrógrada, sem acesso a informações e sem conhecimento nenhum, seria justificável tomar atitudes sem saber suas possíveis consequências, mas, tendo em vista que temos conhecimento e acesso a todos os meios que precisamos para nos prevenir ( na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012) foi retratado que 69,7% dos entrevistados também sabiam que era possível adquirir preservativos gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS)) por que não os utilizamos?

Há quem diga que não gosta, que não quer interromper a relação “só” para isso, e há ainda muitos casos de quem fique sem jeito de dizer que quer usar quando o parceiro insiste em dizer que não há a hipótese de usar. Por que não usar a criatividade (sim, é possível e há várias maneiras) e achar meios alternativos para não tornar o uso dos preservativos, um fardo?

                                                                                                           Escrito por Luiza Torrezani.



Bibliografia

TALITA obrigou Rafael a transar sem camisinha. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/bbb-15-talita-obrigou-rafael-a-transar-sem-camisinha-1417.html

CAMÂRA aprova projeto que dificulta aborto legal e pune venda de abortivos. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/10/1696664-camara-aprova-projeto-que-dificulta-aborto-legal-e-pune-venda-de-abortivos.shtml>


EDUCAÇÃO SEXUAL. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/vigilancia/noticias-vigilancia/7612-educacao-sexual-chega-a-90-dos-adolescentes

O BBB e a responsabilidade de evitar uma gravidez. Disponível em: http://blogueirasfeministas.com/2015/02/o-bbb-e-a-responsabilidade-de-evitar-uma-gravidez/

UNAIDS. http://www.unaids.org.br/acoes/jovens.asp

VÍRUS HPV. Disponível em: http://www.virushpv.com.br/novo/pordentro.php

BOLETIM Epidemiolófico: HIV, AIDS. Disponível em: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2013/55559/_p_boletim_2013_internet_pdf_p__51315.pdf

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